sábado, 12 de fevereiro de 2022

Graus de Letramento

Estou fazendo o curso sobre os graus de letramento do Rafel Falcón e resolvi resumir o conteúdo em forma de Mapa Mental como exercício de memorização.

Definição do Passivo Bruto, segundo Rafael Falcón:

"Capta ideias gerais e deduz o sentido do texto a partir de palavras chaves e conhecimento prévio do contexto. Tem ideia do significado das palavras, mas dificilmente consegue defini-las e distingui-las de outras no mesmo campo semântico. Não é capaz de defender racionalmente sua interpretação de um texto, a qual frequentemente está errada em algum ponto; mas ele vê esses erros como divergências racionais e legítimas, ainda que não consiga justifica-los por princípios gramaticais. Como está no nível mais baixo, pode achar inconcebível que ler seja algo mais do que sentir e adivinhar o sentido. Não possui noções claras de quantos tipos de palavras há na língua, para o que serve cada uma e quais são suas características morfológicas e possibilidades sintáticas. Não consegue perceber padrões gramaticais por si mesmo, nem no seu próprio idioma, mas percebe padrões sonoros – como rimas e aliterações. Depende de repetições exaustivas ou de fórmulas e regras explícitas para aprender." 



terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Fiz a tentativa de tradução de uma história muito engraçada achada durante os estudos de lógica no livro "Socratic Logic: A Logic Text Using Socratic Method, Platonic questions, and Aristotelian Principles", do Peter Kreeft.

Amor, uma falácia

Por Max Schulman (The Many Loves of Dobie Gillis)

 

Eu era legal e bom de lógica. Aguçado, calculista, perspicaz, acurado e astuto – Eu era tudo isso. Meu cérebro era poderoso feito um dínamo, preciso como uma balança de laboratório, penetrante feito um bisturi. E – Veja bem! – Eu só tinha dezoito anos.

Não é sempre que uma pessoa tão jovem possui tamanho intelecto. Pegue, por exemplo, Petey Bellows, meu companheiro de quarto na universidade. Mesma idade, mesmas experiências, mas estúpido feito um boi. Um cara legal, entenda-me, mas com nada na cabeça. Um tipo emocional. Instável. Impressionável. E o pior de tudo, um modista. Modistas, eu presumo, são negadores da razão. Se deixar levar por cada nova mania que surge, se render a idiotas só porque todo mundo está fazendo o mesmo – Isso, para mim, é o apogeu da estupidez. Mas não para o Petey.

Numa tarde, achei Petey deitado em sua cama com uma expressão de angústia em seu rosto que imediatamente diagnostiquei como apendicite. “Não se mexa!” eu disse. “Não tome nenhum laxante. Eu vou arrumar um médico”.

“Guaxinim”, ele murmurou sofregamente.

“Guaxinim?” Eu disse, interrompendo minha saída.

“Eu quero um casaco de guaxinim”, lamentou.

Eu percebi que o seu problema não era físico, mas mental. “Por que você quer um casaco de guaxinim?”

“Eu deveria saber isso”, ele gritou, batendo nas têmporas. “Eu deveria saber que eles voltariam quando o Charleston voltasse. Como um tolo, eu gastei todo meu dinheiro em livros e agora eu não posso comprar um casaco de guaxinim.

“Você quer dizer”, eu disse incrédulo, “que as pessoas estão usando casacos de guaxinim novamente?”

“Todos os Grandes do Campus estão usando isso. Onde você esteve?”

“Na livraria”, disse eu, citando um lugar não frequentado pelos Grandes do Campus.

Ele saltou da cama e caminhou no quarto. “Preciso de um casaco de guaxinim”, disse ele desejoso. “Eu preciso!”

“Mas porque, Peter? Olhe isso racionalmente. Casacos de guaxinim são anti-higiênicos. Eles desmancham. Cheiram mal. Pesam demais. São feios. Eles...”

“Você não entende”, ele interrompeu impacientemente. “Eu preciso fazer isso. Você não quer ser membro do clube de natação?”

“Não”, eu disse firmemente.

“Bem, eu quero”, ele declarou. “Eu daria qualquer coisa por um casaco de guaxinim. Qualquer coisa!”

Meu cérebro, esse instrumento preciso, entrou em alta velocidade. “Qualquer coisa?”, perguntei olhando para ele meticulosamente.

“Qualquer coisa”, ele afirmou em alto e bom tom.

Eu mexi no meu queixo pensativamente. Então eu me dei conta que já sabia onde arrumar um casaco de guaxinim. Meu pai tinha um em seu tempo de faculdade; estava jogado em um baú no sótão de casa. Lembrei também que Petey tinha algo que me interessava. Ele não tinha exatamente, mas era como se tivesse direitos sobre isso. Eu me referia a sua namorada, Polly Espy.

Há muito eu já cobiçava Polly Espy. Deixe-me enfatizar que meu desejo por essa jovem não era de natureza emocional. Ela era, com certeza, uma garota que excitava emoções, mas eu não era o tipo de cara que deixava meu coração mandar na minha cabeça. Eu queria Polly por uma razão estritamente calculada e inteiramente cerebral.

Eu era um calouro na faculdade de direito. Em alguns anos, estaria advogando. Estava a par da importância do tipo certo de mulher para ajudar a me promover na carreira de advogado. Os advogados de sucesso que observei, quase sempre, casavam-se com mulheres belas, graciosas e inteligentes. Com uma exceção, Polly se encaixava perfeitamente nessas especificações.

Bela ela era. Não tinha as proporções de uma pin-up, mas eu sabia que o tempo iria suprir essa falta. Ela já tinha os ingredientes.

Graciosa ela era. Por graciosa eu quero dizer cheia de graça. Ela tinha uma postura ereta, comportamento adequado, maneiras que indicavam claramente uma educação das melhores. À mesa, suas maneiras eram requintadas. Eu a vi comendo no restaurante Kozy Kampus Korner o especial da casa – um sanduíche feito com fatias de carne assada, molho, nozes picadas e chucrute – sem ao menos sujas seus dedos.

Inteligente ela não era. De fato, ela ia em uma direção oposta. Porém, eu acreditava que sob minha supervisão ela poderia ficar mais esperta. Em todo caso, valia a pena tentar. Era, no fim das contas, mais fácil fazer uma garota bela e burra ficar mais inteligente do que fazer uma feia e inteligente ficar mais bonita.

“Petey”, eu disse, “você está apaixonado pela Polly Spy?”

“Eu acho que ela é uma garota atraente”, ele replicou, “mas eu não sei se eu chamaria isso de amor. Por quê?

“Voce”, perguntei, “tem está em algum tipo de compromisso sério com ela? Digo, estão namorando sério ou algo assim?”

“Não. Nós nos vemos regularmente, mas ambos temos outros compromissos. Por quê?”

“Existe”, perguntei, “algum outro cara pelo qual ela tem algum interesse em particular?”

“Não que eu saiba. Por quê?”

Aquiesci com satisfação. “Em outras palavras, se você estivesse fora da jogada, o campo estaria aberto. Correto?”

“Eu acho que sim. Aonde você quer chegar?”

“Nada, nada”, eu disse inocentemente e tirei a minha mala do armário.

“Aonde você vai?”

“Passarei o final de semana em casa”. E joguei algumas coisas na minha mala.

“Escute”, ele falou, segurando meu braço ansiosamente, “enquanto você estiver em casa, não conseguiria algum dinheiro com seu velho? Assim, me faria um empréstimo para compra do casaco de guaxinim?”

“Eu farei algo melhor que isso”, disse-lhe em um tom misterioso, fechei a mala e parti.

“Veja”, disse para o Petey quando voltei na segunda pela manhã. E joguei a mala aberta revelando o grande e peludo objeto que meu pai tinha vestido em 1925 na Stutz Bearcat.

“Santo Toledo!”, disse Petey em reverência. E agarrou o casaco de guaxinim passando-o no rosto. “Santo Toledo!”, repetiu quinze ou vinte vezes.

“Gostou?”, perguntei.

“Ah sim!”, ele gritou, agarrando a pele gordurosa para si. Então, um olhar astuto surgiu em seus olhos. “O que você quer por isso?”

“Sua garota”, disse sem hesitar.

“Polly?”, ele disse num sussurro horrorizado. “Você quer a Polly?”

“É isso aí”

Ele atirou o casaco longe. “Nunca”, disse ele com firmeza.

Dei de ombros. “Tudo bem. Se você não quer fazer parte do clube de natação, o problema é seu.”

E sentei-me numa cadeira fingindo ler um livro, mas mantendo Petey no meu campo de visão. Ele era um homem arrasado. Primeiro, ele olhou o casaco com uma expressão de um cãozinho abandonado na porta de uma padaria. Então ele se virou para o casaco com determinação. Se virou, mas desta vez não com tanta determinação. Sua cabeça girava para frente e para trás, seu desejo ia crescendo, sua resolução diminuindo. Finalmente ele não se virou mais; ficou apenas parado olhando com luxúria para o casaco.

“Não que eu estivesse apaixonado pela Polly”, disse ele com voz rouca. “Ou um relacionamento sério ou algo parecido.”

“Entendo”, murmurei.

“O que ela significa pra mim? Ou eu para Polly?”

“Nada”, eu disse.

“É somente algo casual – só diversão, nada mais.”

“Experimente o casaco”, eu disse.

Ele experimentou. O casaco cobria suas orelhas e descia até o topo dos sapatos. Ele parecia um monte de guaxinim mortos. “Ficou perfeito”, disse ele alegremente.

Levantei-me da minha cadeira. “Negócio fechado?”, perguntei estendendo minha mão.

Ele engoliu a seco. “Negócio fechado”, disse ele apertando minha mão.

Tive meu primeiro encontro com Polly na tarde seguinte. Foi um trabalho de pesquisa; eu queria descobrir o quão difícil seria o meu trabalho de colocar a mente dela no padrão que eu precisava. Levei ela para nosso primeiro jantar. “Nossa, o jantar estava ma-ra-vi-lho-so”, ela disse ao deixar o restaurante. Então eu a levei para ver um filme. “Nossa, esse filme foi in-crí-vel”, ela disse ao deixar o cinema. Então a levei para casa. “Nossa, eu me diverti muuuuito”, disse ela quanto desejava-me boa noite.

Voltei para o meu quarto com o coração pesado. Eu tinha subestimado demais o tamanho da minha tarefa. A falta de informação dessa garota era terrível. Não seria o caso de supri-la meramente com informações. Primeiro, ela teria que aprender a pensar. Pareceu-me um projeto de grandes proporções e eu fiquei tentado a devolvê-la para o Petey. No entanto, eu comecei a pensar nos seus abundantes atributos físicos e do jeito que ela entrava nos lugares, no jeito que ela segurava uma faca e um garfo, e decidi fazer um esforço.

Eu agia assim, com todas as coisas, sistematicamente. Dei a ela um curso de lógica. O caso era que, sendo um estudante de direito, estava estudando lógica por conta própria, então eu tinha tudo na ponta dos dedos. “Polly”, eu disse a ela enquanto a levava para o próximo encontro, “esta noite nós vamos ao Knoll para conversar.”

“Oh, que legal”, ela replicou. Uma coisa que eu tenho que dizer sobre essa garota: não seria tarefa fácil achar alguém tão agradável.

Nós fomos para o Knoll, um lugar de encontro no campus, nos sentamos sob um velho carvalho, e ela me olhou com expectativa. “E o que vamos falar?”, ela perguntou.

“Lógica.”

Ele pensou por um minuto e decidiu que tinha gostado da ideia. “Magnífico”, ela disse.

“Lógica”, eu disse, limpando minha garganta, “é a ciência do pensamento. Antes de podermos pensar corretamente, temos primeiramente que aprender a reconhecer as falácias comuns da lógica. É o que vamos ver esta noite.”

“Wooow!”, gritou ela batendo palmas com empolgação.

Eu fiquei estremecido, mas continuei bravamente. “Primeiro, vamos examinar a falácia chamada Dicto Simpliciter

“Certo”, ela insistiu batendo seus cílios ansiosamente.

“Dicto Simpliciter é um argumento baseado em uma generalização exagerada. Por exemplo: Exercício é bom. Portanto, todo mundo deveria se exercitar.”

“Eu concordo”, disse Polly seriamente. “Quero dizer que o exercício é maravilhoso. Que é bom para o corpo e tudo mais.”

“Polly”, eu disse gentilmente, “o argumento é uma falácia. Exercício é bom é uma generalização exagerada. Por exemplo, se você for cardíaco, exercícios podem ser ruins. Muitas pessoas são recomendadas pelos seus médicos a não se exercitarem. Você tem que qualificar essa generalização. Você tem que dizer que exercícios são geralmente bons, ou que exercícios são bons para a maioria das pessoas. De outra forma, você incorrerá na Dicto Simpliciter. Entende?”

“Não”, confessou. “Mas isso foi ma-ra-vi-lho-so. Mais uma! Mais uma!”

“Será melhor se você parar de puxar a minha blusa.” Eu disse a ela, e ela parou. Eu continuei “Em seguida, nós vamos falar da falácia chamada Generalização Precipitada. Escute com atenção: Você não fala francês. Eu não falo francês. Petey Bellows não fala francês. Podemos concluir que ninguém na Universidade de Minesota fala francês.”

“Sério?” disse Polly maravilhada. “Ninguém?”

Eu tentei esconder minha exasperação. “Polly, isso é uma falácia”. A generalização é feita de forma apressada. Estas são muito poucas amostras para sustentar tal conclusão.”

“Conhece mais alguma falácia?” perguntou ela resfolegante. “Isso é mais divertido do que dançar.”

Eu lutei contra uma nuvem de desespero. Eu não estava chegando a lugar nenhum com aquela garota, absolutamente perdido. Mesmo assim, eu sou persistente. Continuei “A próxima se chama Post Hoc. Escute: Não vamos levar Bill ao nosso picnic. Toda vez que o levamos, chove.”

“Eu conheço alguém exatamente assim”, exclamou. “Uma garota perto de casa – Eula Becker, seu nome. Nunca falha. Toda vez que nós a levamos a um picnic...”

“Polly”, eu disse rispidamente, “isso é uma falácia. Eula Becker não causa chuva. Ela não tem conexão com o tempo. Você está cometendo uma Post Hoc se acusa Eula Becker disso.”

“Eu nunca mais vou fazer isso”, ela prometeu contrariada. “Você está chateado comigo?”

Suspirei. “Não, Polly, não estou chateado.”

“Então diga-me mais falácias.”

“Tudo bem. Vamos tentar a Premissas Contraditórias.”

“Sim, vamos”, disse ela piscando seus olhos alegremente.

Eu fiz uma careta, mas fui em frente. "Aqui está um exemplo de Premissas Contraditórias: Se Deus pode fazer qualquer coisa, ele pode fazer uma pedra tão pesada que não seja capaz de levantá-la?"

“É claro que sim”, respondeu prontamente.

“Mas se Ele pode fazer qualquer coisa, Ele pode levantar a pedra”, argumentei.

“Siiimm”, disse pensativa. “Bem, então eu acho que Ele não pode levantar a pedra.”

“Mas Ele pode qualquer coisa”, lembrei a ela.

Ela quebrou a sua linda e vazia cabeça. “Estou confusa”, admitiu.

“É claro que está. Pois quando a premissa de um argumento é contraditória, então o argumento não é válido. Se existe uma força irresistível, então não pode haver objeto que não se possa mover. Se existe um objeto que não se pode mover, então não pode haver força irresistível. Entende?”

“Diga-me mais coisas interessantes iguais a essas”, disse ela ansiosamente.

Consultei meu relógio. “Eu acho melhor terminar isso por hoje. Vou levá-la para casa agora e você pode pensar em todas as coisas que aprendemos hoje. Teremos outra sessão amanhã à noite.”

Deixei-a no dormitório das garotas, onde ela me assegurou que teve uma perfeita e formidável noite, enquanto eu fui taciturno para o meu quarto. Petey estava roncando na sua cama, o casaco de guaxinim dormia amontoado como uma grande besta peluda a seus pés. Por um momento eu considerei me dirigir a ele dizendo que poderia pegar sua garota de volta. Parecia claro que meu projeto estava condenado ao fracasso. A garota tinha uma cabeça que era simplesmente à prova de lógica.

Mas eu reconsiderei. Eu tinha desperdiçado uma tarde: Eu deveria tentar mais uma. Quem sabe? Talvez, em algum lugar perdido de sua mente, algumas brasas ainda ardessem. Talvez, de alguma forma, eu conseguisse tornar essa brasa em chamas. Reconheço que não era uma perspectiva cheia de esperança, mas decidi tentar mais uma vez.

Sentado sob o carvalho na noite seguinte, eu disse: "Nossa primeira falácia esta noite se chama Ad Misericordiam."

Ela estremeceu de alegria.

“Ouça com atenção”, eu disse. “Um homem se candidata para um trabalho. Quando o chefe pergunta quais são suas qualificações, ele diz que ele e a esposa têm seis filhos em casa, a esposa é uma pobre de uma aleijada, as crianças não têm nada para comer, sem roupas para vestir, sem sapatos em seus pés, não há camas em sua casa, sem carvão para aquecimento e o inverno está chegando.”

Uma lágrima rolou dos olhos de Polly, que ficou com as bochechas rosadas. “Own, isso é horrível, horrível,” soluçou.

“Sim, horrível”, concordei, “mas isso não é um argumento. O homem não respondeu à pergunta do seu chefe sobre suas qualificações. Ao invés, ele apelou para a simpatia do chefe. Ele cometeu a falácia chamada Ad Misericordiam. Entende?”

“Você tem um lenço?”, choramingou.

Dei a ela um lenço e tentei me segurar para não soltar um grito, enquanto ela enxugava seus olhos. “Próxima”, eu disse tentando controlar meu tom, “vamos discutir a Falsa Analogia. Aqui um exemplo: Estudantes deveriam ser autorizados a olharem seus livros durante as provas. Afinal, cirurgiões têm radiografias para guiá-los durante operações, advogados têm documentos para se guiá-los nos tribunais, carpinteiros têm plantas para guiá-los ao construírem casas. Por que, então, estudantes não deveriam ter permissão para olharem seus livros durante os exames?”

"Excelente", disse ela com entusiasmo, "é a idéia mais maravilhosa que ouvi em anos."

"Polly", eu disse irritadamente, "o argumento está todo errado. Médicos, advogados e carpinteiros não estão fazendo um teste para ver o quanto eles aprenderam, mas os alunos estão. As situações são completamente diferentes e você não pode fazer uma analogia entre eles.

“Eu ainda acho que é uma boa ideia.”

“Loucura”, murmurei. Persisti obstinadamente. “Em seguida, vamos ver a Hipótese Contrária aos Fatos.”

“Parece legal”, reagiu Polly.

“Escute: Se Madame Curie não tivesse deixado uma chapa fotográfica em uma gaveta com um pedaço de pechblenda*, o mundo de hoje não saberia sobre o elemento rádio."

“Isso é verdade”, disse Polly, balançando a cabeça. “Você viu o filme? Oh, fiquei abalada. Aquele Walter Pidgeon é tão sonhador. Fiquei comovida.”

“Se você puder esquecer o Sr. Pidgeon por um momento”, disse friamente, “Eu gostaria de lembrar que esse argumento é uma falácia. Talvez Madame Curie encontrasse ou rádio em outro momento mais tarde. Talvez, alguém em algum lugar pudesse descobrir isso. Talvez um monte de coisas poderia acontecer. Você não pode começar com uma hipótese que não é verdadeira e assim chegar em uma conclusão segura sobre isso.”

“Eles deveriam colocar o Walter Pidgeon em mais filmes”, disse Polly. “Eu quase não vejo ele mais.”

Mais uma chance, decidi. Só mais uma. Há um limite para o que o corpo pode suportar. "A próxima falácia é chamada de Envenenamento do Poço."

“Que fofo!”, ela murmurou.

“Dois homens estão tendo um debate. O primeiro levanta e diz: ‘Meu oponente é um notório mentiroso. Vocês não podem acreditar em nenhuma palavra que ele está a dizer’... Agora, Polly, pense. Pense bastante. O que há de errado aqui?”

Olhei ela de perto enquanto ela franzia a testa em concentração. De repente, um lampejo de inteligência - o primeiro que vi - surgiu em seus olhos. "Que chance o segundo homem tem se o primeiro o chama de mentiroso antes mesmo de ele começar a falar?"

“Correto!” gritei exultante. “Cem porcento correto. Não é justo. O primeiro homem envenenou o poço antes que alguém pudesse beber dele. Ele amarrou o oponente antes mesmo de começar ... Polly, estou orgulhoso de você. "

"Eeeee" ela murmurou, corando de prazer.

“Veja, meu bem, essas coisas não são tão complicadas. Tudo que você deve fazer é se concentrar. Pense – examine – avalie. Vamos agora revisar tudo que aprendemos até agora.”

“Manda ver”, disse ela fazendo um aceno com a mão.

Animado por saber que Polly não era totalmente uma cretina, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o que havia dito a ela. Repetidamente, citei casos, apontei falhas, continuei martelando sem parar. Foi como cavar um túnel. No início, tudo era trabalho, suor e escuridão. Não tinha ideia de quando alcançaria a luz, ou mesmo se o faria. Mas eu persisti. Eu bati, arranhei e raspei, e finalmente fui recompensado. Eu vi um raio de luz. E então a fenda ficou maior e o sol apareceu e tudo ficou claro.

Isso levou cinco noites cansativas, mas valeu a pena. Eu fiz de Polly uma profissional da lógica; Eu a ensinei a pensar. Meu trabalho estava feito. Ela era digna de mim, finalmente. Ela era uma esposa adequada para mim, uma anfitriã adequada para minhas muitas mansões, uma mãe adequada para meus filhos abastados.

Não se deve pensar que eu não tinha amor por essa garota. Pelo contrário. Assim como Pigmalião, amava a escultura da mulher perfeita que ele mesmo havia moldado, eu também amava a minha obra. Decidi contar a ela meus sentimentos em nosso próximo encontro. Chegara a hora de mudar nosso relacionamento de acadêmico para romântico.

"Polly", eu disse na vez seguinte que nos sentamos sob nosso carvalho, "esta noite não vamos discutir falácias."

"Own, não!?" disse ela, desapontada.

"Minha querida", eu disse, favorecendo-a com um sorriso, "agora que passamos cinco noites juntos. Nós nos demos muito bem. É claro que combinamos."

"Generalização Apressada", disse Polly alegremente.

"Perdão. O que disse?".

"Generalização Apressada", repetiu. "Como você pode dizer que combinamos com base em apenas cinco encontros?"

Eu ri com alegria. A minha querida criança havia aprendido bem suas lições.

"Minha querida", eu disse, dando tapinhas em sua mão de maneira indulgente, "cinco datas é o bastante. Afinal, você não precisa comer um bolo inteiro para saber que está bom."

"Falsa Analogia", disse Polly prontamente. "Não sou um bolo. Sou uma menina."

Eu ri com um pouco menos de graça. A minha querida criança aprenderá suas lições talvez muito bem. Decidi mudar de tática. Obviamente, a melhor abordagem era uma declaração de amor simples, forte e direta. Parei por um momento enquanto meu cérebro extraordinário escolhia as palavras adequadas. Então comecei:

"Polly, eu te amo. Você é o mundo inteiro para mim, a lua e as estrelas e as constelações do espaço sideral. Por favor, minha querida, diga que você vai ficar comigo, porque, se não, a vida não terá sentido. Vou definhar. Recusarei minhas refeições. Vou vagar pela face da terra feito um vulto cambaleante e de olhos fundos. "

Pronto, pensei, cruzando os braços, isso deveria bastar.

"Ad Misericordiam", disse Polly.

Eu cerrei meus dentes. Eu não era Pigmalião; era Frankenstein e meu monstro me segurava pela garganta. Freneticamente, lutei contra a onda de pânico que crescia dentro de mim. A todo custo, eu tinha que manter a calma.

"Bem, Polly," eu disse, forçando um sorriso, "você certamente aprendeu as falácias."

"Você está absolutamente certo", disse ela com um aceno vigoroso.

"E quem os ensinou a você, Polly?"

"Você."

"Isso mesmo. Então você me deve algo, não é, minha querida? Se eu não tivesse aparecido, você nunca teria aprendido sobre falácias."

"Hipótese Contrária ao Fato", disse ela imediatamente.

Sequei a transpiração da minha testa. "Polly", resmunguei, "você não deve levar todas essas coisas ao pé da letra. Quero dizer, isso são apenas coisas da sala de aula. Você sabe que as coisas que aprendemos na escola não têm nada a ver com a vida."

"Dicto Simpliciter", disse ela, sacudindo o dedo e fazendo graça de mim.

Isso foi o suficiente. Eu pulei de pé, urrando como um touro. "Você vai ou não vai ficar comigo?"

"Não vou", respondeu ela.

"Por que não?" Eu exigi.

"Porque esta tarde eu prometi a Petey Bellows que eu ficaria com ele."

Eu recuei, vencido pela infâmia disso. Depois do que ele prometeu, depois que fez um acordo, depois que ele apertou minha mão! "Um rato!" Eu gritei chutando grandes pedaços da grama. Você não pode ficar com ele, Polly. Ele é um mentiroso. Um trapaceiro. Um rato. "

"Envenenamento do Poço", disse Polly, "e pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia."

Com um imenso esforço de vontade, modulei minha voz. "Tudo bem", eu disse. "Você é uma profissional da lógica agora. Vamos ver as coisas logicamente. Como você pôde escolher Petey Bellows em vez de mim? Olhe para mim - um aluno brilhante, um intelectual tremendo, um homem com um futuro garantido. Olhe para Petey - um cabeça-dura, um nervosinho, um cara que nunca terá noção de nada na vida. Você pode me dar uma razão lógica pela qual você deveria namorar Petey Bellows? "

"Certamente que sim", declarou Polly. "Ele tem um casaco de guaxinim."

 

*A pechblenda é uma variedade da uraninita. Dela é retirado o urânio.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

O Spoudaios de Aristóteles

"Ora, se a função do homem é uma atividade da alma que segue ou que implica um princípio racional, e se dizemos que 'um tal-e-tal' e 'um bom tal-e-tal' têm uma função que é a mesma em espécie (por exemplo, um tocador de lira e um bom tocador de lira, e assim em todos os casos, sem maiores discriminações, sendo acrescentada ao nome da função a eminência com respeito à bondade — pois a função de um tocador de lira é tocar lira, e a de um bom tocador de lira é fazê-lo bem); se realmente assim é [e afirmamos ser a função do homem uma certa espécie de vida, e esta vida uma atividade ou ações da alma que implicam um princípio racional; e acrescentamos que a função de um bom homem (spoudaios) é uma boa e nobre realização das mesmas; e se qualquer ação é bem realizada quando está de acordo com a excelência que lhe é própria; se realmente assim é], o bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa." (Aristóteles, Ética a Nicômaco. Livro I, Capítulo 7)

Graus de Letramento

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